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quinta-feira, 3 de março de 2011

Chuvas e Caminhos

A chuva intensa e imensa dissipa suas escuras nuvens ao amanhecer
Coloco-me de pé enfrentando trovoadas, relâmpagos e muita água, vou sem saber
Meu guarda-chuva um tanto surrado, deixa uns pequenos pingos alcançarem meu rosto
Logo, me aborreço, não quero meu rosto molhado nem as mesmas palavras unidas a este desgosto

A medida que vou caminhando, as nuvens bradam como o leão tentando afugentar seus inimigos
As águas violentas tudo querem levar, sem destino algum que possa ser seguro para seguir
Eu vou, sim, eu vou às vezes penso que será meio difícil chegar, continuo passos lentos e organizados
Ruas, casas, praças, luzes e amores ficam tudo lá atrás, eu vou, relógio bate uma hora ou duas nem sei

Minha blusa de mangas longas não me aquecem o frio, que atravessa meu peito e minha vida
O vento forte balança meus cabelos, redireciona a chuva a irrigá-lo, tento ficar aquecida
Ainda assim, eu sigo, passos mais largos e rápidos meio desordenados, o que ia fazer quase esqueci
Meus sapatos encharcados de água e passado, tudo vamos deixando, tudo vamos... aos poucos nem sei o que vivi

Em meio aos automóveis totalmente lavados, no espelho, uma imagem me impressiona, me fez parar um instante apenas
Não, não era o que eu imaginava, somente ilusão, pensei em teus olhos, continuo caminhando, meus passos agora calmos, na mente todas as cenas
A chuva agora cessa sua fúria caindo fininha e silenciosa, meus pés reclamam momento a momento a forma com a qual os aperto
Mais ainda caminho cada vez mais longe do meu ponto de partida, me seguem: a chuva, os sorrisos, a casa, cada vez mais perto

Fecho o guarda-chuva, continuo a caminhada, tudo agora mais verde, imaculado, chega a ser perfeito
Caminho cada vez mais, redireciono-me ao outro lado do caminho, a chuva agora cessa de vez
Em minha direção, vejo alguém seus passos um tanto desenfreados, por um momento acelara-me o peito e os passos
Desejo fugir, desejo ficar, quero apenas caminhar, talvez um dia entender, meus passos enfim acalmam-se e ordenam-se

Tu passas por mim, rapidamente, mas um "oi" apenas, é o que posso dizer
A chuva agora revolta-se, e a sua sinfonia furiosa me assusta, volto a abrir o velho guarda-chuva, sem saber
Ando mais e mais, tu estás tão longe que nem me aventuro a olhar pra trás, apenas teus pés caminhando em milhares de direções
Vou seguindo, agora bem mais perto do que eu imaginava, tudo vai ficando na chuva, eu prefiro ficar no vento viajando em todas as estações

Ana Maria

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